quinta-feira, 1 de abril de 2010

Por que esta noite não é como as outras?

“Celebremos, portanto, a festa, não com o velho fermento, nem com fermento de malícia e perversidade, mas com pães ázimos: na pureza e na verdade” (1 Coríntios 5:8)

A primeira Páscoa da história celebrou a redenção de Israel após um período de duzentos e dez anos de dura servidão no Egito. Outras nações da Terra, ao conquistar sua independência, legaram, como memoriais de tais conquistas, grandiosos monumentos, ou célebres histórias de bravura e galhardia. Coisas que evocam o mais alto senso de nacionalismo, e que despertam aquilo que há de mais precioso e nobre em uma nação (a sua verdadeira essência). Pense no Arco do Triunfo na França, na Estatua da Liberdade nos Estados Unidos, ou mesmo no nosso valente “Independência ou Morte”, bradado às margens do Ipiranga.

Israel, não diferente das outras nações, tem sua própria celebração da liberdade. Mas, paradoxalmente, o Eterno parece ter legado ao Seu povo um memorial um tanto quanto “improvável”. Os símbolos que evocam este sentimento da liberdade são, segundo o rito prescrito em Êxodo 12: pães sem fermento (ázimos), ervas amargas e um cordeiro que era sacrificado. Difícil, à primeira vista, entender como estes elementos poderiam evocar um sentimento de liberdade: os ázimos são chamados de “pão da pobreza”. As ervas amargas evocam o sofrimento da escravidão. E o cordeiro é, certamente, o mais servil dos animais.

Como relacionar tudo isso, e – mais importante – o que isto significa para nós hoje? Mais uma vez, a resposta está em qual lição o Eterno quer nos deixar por trás de tudo, a qual é bem clara: “Quando vocês estiverem celebrando a sua liberdade, não se esqueçam do que ficou para trás. Não fiquem tão alegres a ponto de não conseguirem mais entender como sente a alma de um oprimido (1). Não se tornem semelhantes aos opressores de vocês. Esta é a verdadeira essência de Israel, e a sua genuína liberdade” (2).

Como toda nação, Israel precisa de um herói. Alguém que incorpore todos os seus mais nobres valores e aspirações. Mas, paradoxalmente, o Eterno parece ter escolhido o mais improvável dos homens para esta tarefa: sem formosura ou beleza alguma que nos pudesse atrair. Manso. Homem de dores, e que sabe o que é padecer (3). Durante sua vida, não esmagou o caniço, nem a chama que fumegava (4).

“Os reis das nações as dominam” – dizia Ele – “e os que as tiranizam são chamados os maiorais. Quanto a vós, não deverá ser assim: pelo contrário, o maior dentre vós torne-se como o mais jovem, e o que governa como aquele que serve” (5).

Tendo todo o poder em suas mãos, não rejeitou o sofrimento, a solidão e – até mesmo a morte – que, não por mera coincidência, aconteceu durante a Páscoa (6). E tudo isso, porque não quis, nem mesmo por um único instante, deixar de tornar-se semelhante (7) aos seus irmãos (Ele jamais se envergonha de nos chamar assim).

Purificai-vos do velho fermento, para serdes nova massa. Pois nosso pessach (isto é,o nosso “salto”) Cristo, foi imolado (8). Ele é o nosso salto, da escravidão para liberdade (9). Da tristeza para alegria (10). Do medo para a fé (11). Da morte para vida (12). Das trevas para a Luz (13).

Celebremos, portanto, a festa, não com velho fermento, nem com fermento de malícia e perversidade, mas com pães ázimos: na pureza e na verdade!

COMUNIDADE MORIAH

(1) Diversas vezes, a Lei repete o mandamento de não oprimir os mais fracos (órfãos, viúvas, estrangeiros e peregrinos) – (cf. Ex: 22:20 e 21). O argumento para tal insistência é simples: “porque peregrino fostes na terra do Egito” (Ex: 22: 21).
(2) “A mensagem contida no ato de juntar-se matzá (o pão ázimo) – o pão da pobreza que se transformou em símbolo da liberdade – com Marór (ervas amargas) – símbolo da amargura e da opressão – é que, nos momentos de liberdade, não deve ser esquecida jamais a amargura da escravidão, e, nos tempos de opressão, deve-se manter viva a esperança da liberdade” (cf. A Lei de Moisés – Comentários de Meir Marziliah Melamed, Editora Sêfer, pg. 185)
(3) Isaías 53:3
(4) Isaías 42:3
(5) Lucas 22:26
(6) Lucas 22:1
(7) Hebreus 2:17
(8) 1 Coríntios 5: 7
(9) Hebreus 2:15
(10)Isaías 61:3
(11)1 João 4:8
(12)Efésios 2:4-5
(13)1 João 1:5

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